PERSPECTIVAS PARA 2017 E OS ÍNDIOS AMERICANOS
- José Carlos Souza Filho
- Sep 20, 2017
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Artigo escrito para a SBAO em revista (Sociedade Brasileira em Administração em Oftalmologia, ano VII, No 25, Out/Nov/Dez 2016.
José Carlos de Souza Filho
“A arte da previsão consiste em antecipar o que acontecerá e depois explicar o porquê não aconteceu.”
Sir Winston Churchill
Este aforismo dá uma boa dimensão do que sentem e pensam os brasileiros quando tentam dar alguma resposta à inquietante questão colocada neste enunciado: quais as perspectivas para 2017???
Existem algumas formas de se abordar esta questão. Pode-se olhar com um viés mais pragmático como fazem alguns e dizer que as coisas não mudarão, pois nunca mudaram. Porque mudariam agora? É uma visão simplista e bastante desanimadora porque ignora todos os esforços em se transformar as condições e as expectativas para melhor. E quando as expectativas mudam para melhor, já se dá um passo para que o “ambiente” comece a melhorar.
O País passou por muitas transformações neste ano: mudança de governo, com as conseqüências esperadas, mudança nos rumos do cenário econômico, com a visão de uma nova perspectiva, mudança na decisão dos eleitores, com a clara intenção de dar uma resposta ao que já não mais agradava.
Um cenário recessivo precisa ter certo “lead time”, ou seja, algum tempo para dar respostas consistentes quando ocorrem as mudanças. Uma indústria que passe a acreditar que seus investimentos gerarão retorno irá começar a mover as rodas do aumento da produção e da inovação. Isto deverá acionar os fornecedores de insumos e demais agentes do processo (que também deverão estar preparados). Isto pode representar a necessidade de se aumentar o contingente de forma geral, o que também leva tempo, preparo e adequação.
Isto tudo fará com que a renda comece a reagir e com ela o consumo, fazendo com que o círculo virtuoso se inicie, abrangendo todos os setores. A perspectiva externa também é relevante. A eleição nos Estados Unidos (que está afetando a cotação da moeda americana na mudança do resultado esperado nas pesquisas), o efeito China (que representa maior consumo dos nossos insumos, produtos agrícolas e manufaturas) e a dinâmica européia com a absorção de grandes contingentes populacionais.
O Boletim Focus, publicado periodicamente pelo Banco Central indica certo otimismo com relação ao futuro em termos de inflação (algo entre 5,7 e 6% em 2017), ao crescimento (entre 0,2 e 0,4% do PIB) após uma queda próxima de 3,5% neste ano. Nada muito exacerbado certamente por conta dos tempos de resposta que os ajustes costumam demandar.
A propósito deste cenário, conta a lenda que certo índio foi nomeado cacique de uma tribo americana e dentre as suas atribuições, deveria dar as diretrizes para seus comandados a respeito da previsão do tempo, pois com base nesta previsão os índios cortariam e guardariam mais lenha para enfrentar o inverno. Despreparado para tal, ao ser perguntado sobre suas perspectivas, respondeu meio que intuitivamente que o inverno seria muito rigoroso. Isto causou um alvoroço na tribo, que começou a cortar e armazenar lenha num ritmo frenético.
Vendo o que sua informação causou, ele ficou desesperado. Todos na tribo procuraram se preparar a fim de enfrentar um inverno muitíssimo rigoroso. Ficando inseguro com aquela situação, ele decidiu procurar o serviço de meteorologia do condado mais próximo à tribo a fim de dar suporte ao que havia dito. Lá, ouviu que sim. O inverno seria muito rigoroso. Ele ficou mais sossegado, pois a ação da tribo havia se baseado em algo mais consistente que sua mera intuição.
E reiterou suas expectativas. O que levou os índios a trabalharem mais ainda. E novamente ele sentiu remorso pelo visível cansaço que provocara em todos. E voltou aos meteorologistas para saber mais sobre o porquê de previsão tão contundente. Ao que os meteorologistas responderam: “com certeza será, pois os índios estão cortando muita lenha este ano.”
O “inverno” está sendo rigoroso. Muita lenha deve ser cortada e armazenada para a passagem por este período de transformação. Infelizmente, não há outro caminho, senão trabalhar e acreditar. E esperar que os “caciques” estejam conduzindo os índios para a direção correta.
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